“O discurso do golpe é puramente simbólico e ideológico”

Juan Manuel Herrera/OAS / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0

O americano Peter Hakim é presidente emérito do think tank de análise política Inter-American Dialogue, sediado em Washington, nos Estados Unidos, e estuda América Latina há mais de três décadas. Em entrevista à ÉPOCA, ele avalia que as acusações de corrupção que atingem a maioria dos membros do Congresso afetaram a legitimidade do processo de impeachment. Ele destaca também a ausência de novas lideranças no cenário político.

ÉPOCA – Qual sua avaliação do processo de impeachment?


Peter Hakim – O processo de impeachment foi feito de acordo com as normas constitucionais e está baseado em uma acusação que talvez não seja tão séria, mas que, ao mesmo tempo, é uma acusação legítima. É um processo que é vigiado pelos tribunais. O problema é que este Congresso não tem uma grande legitimidade perante o povo brasileiro. A maioria do Congresso está sendo investigada por acusações de corrupção e outros problemas legais. E até a linha de sucessão, o vice-presidente (Michel Temer, agora presidente interino), o presidente da Câmara (Eduardo Cunha, afastado pelo STF), o presidente do Senado (Renan Calheiros), é formada por pessoas que têm acusações contra elas ou estão sendo investigadas. Então, o processo está ok, mas o mecanismo (pelo qual ocorre o impeachment) tem problemas profundos. Isso se tornou muito óbvio durante a votação na Câmara, que mostrou um ambiente que seria mais apropriado para um jogo de futebol do que para um processo legal tão sério. O processo pode ser legítimo, legal, correto, mas está produzindo um resultado que não vai ser visto automaticamente como legítimo pelo povo brasileiro. Outro problema é que não existem lideranças no Brasil neste momento. Lembro que, durante a transição do governo militar e na campanha pelas Diretas Já, havia gente como Tancredo Neves e Fernando Henrique (Cardoso, ex-presidente brasileiro). (Luiz Inácio) Lula (da Silva, ex-presidente brasileiro) também estava presente. Havia uma sensação de que o governo estava sendo entregue a um grupo de  líderes responsáveis. Um Congresso com tão pouca legitimidade está conduzindo o processo. Isso não vai fortalecer o governo brasileiro. Podemos ter alguma esperança que um novo governo vai funcionar melhor e criar certa confiança.  Com a nomeação do Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central) como ministro da Fazenda, há possibilidades de estabilização.

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